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Nas décadas de 70 e 80, um mesmo quarteirão da Rua Tristão Couy, abrigava as duas lojas, que em Malacacheta, ofereciam serviços fotográficos a ‘Foto Regis” e a “Foto Estrela”.
Hoje vou falar sobre Teodomiro Manoel Dias, o Tidumiro do foto, proprietário da extinta Foto Regis.

Filho de Louro fogueteiro, de uma família com muitos irmãos, como Altamiro, Almiro, Tarcísio, Álvaro...

Comecei a conhecê-lo melhor, na segunda metade dos anos 80, quando geralmente formávamos uma turma para ir à praia durante o carnaval e sempre trombava com ele e sua inseparável máquina fotográfica. Às vezes, também acompanhado de sua filha Eliane, minha ex-colega de classe.

Ele já um senhor e eu, um adolescente beberrão, em meio a tantas farras, ainda encontrávamos tempo para jogar conversa fora. Tanto que em 1990, em uma dessas viagens a Guriri, no Espírito Santo, ele foi com nossa turma.

Como nunca foi de beber muito, ele estava sempre atento aos acontecimentos, para fotografar e para contar causos mais adiante.

Na década de noventa, ele transferiu sua loja para um cômodo na avenida Pedro Abrantes, que hoje faz parte da Casa do Agricultor, quase em frente minha casa.

Na época, recém casado e com um filho pequeno, eu e minha esposa resolvemos abrir uma lojinha de roupas infantis na frente de casa, para que ficasse mais fácil cuidar de nosso filho.

Tinha uma árvore na porta da lojinha e Tidumiro sempre atravessava a rua, escorava nela e ficava conversando, com minha esposa, comigo, com meu irmão Carlinhos e com quem mais aparecesse.

No bate-papo, sempre aparecia alguém com a pergunta clássica:

- Será que chove hoje?
Tidumiro olhava para o Morro dos Coqueiros, coçava a cabeça, fazia uma careta, passava a mão no bigode e respondia.

- Não. Hoje não chove, mas amanhã é certo.

Como ele quase sempre acertava a previsão, me deixou intrigado e eu perguntei qual era o segredo, se era a direção que o vento tocava as folhas dos coqueiros, etc.

- Não, eu assisto a previsão do tempo no Jornal Nacional.

De humor sarcástico, quem não o conhecia poderia até pensar que era debochado.

- Ô Tidumiro, dá uma olhadinha na loja para mim, enquanto troco a fralda do menino. Pedia minha esposa.

Ele sempre se dispunha a ajudar. Mas quando eu chegava e agradecia, ele disparava.

- De nada. Se bem que ninguém ia interessar de roubar nada aqui não. Se a gente passar de bicicleta consegue dar balanço nessa loja inteira. 

Nessa época, sua escudeira já não era mais Eliane, mas sua filha Eli, que o ajudava na cobertura de eventos, seja fotografando ou filmando. Ainda havia campo a explorar, porque a fotografia digital ainda não tinha chegado.

Eu dizia que ele era rabugento e ele por sua vez dizia que eu era teimoso. Até me apelidou de Tibúrcio, segundo ele, um senhor que morou nas redondezas de Jaguaritira e era a teimosia em pessoa. Contava ele que se perguntassem a Tibúrcio se a laranja de determinado pé era doce ele respondia que o pé era de manga.

- Uai! Mas e as laranjas, Tiburcio?

- Pode até ser laranja, mas o pé é de manga.

Ou então alguém dizia a Tiburcio.

- Tibúrcio, não mexe nesse enxame de abelhas.

- Tem problema, não. Essas abelhas são mansinhas. Daí a pouco estava todo picado.

Eu para contrabalançar o apelidei de Tripa Seca, por causa de sua magreza.

Nessa época, ficamos tão próximos, que meu filho mais velho, quando perguntado quem iria chamar para sua festa de aniversário dizia:

- Meu ti Gilmar, meu ti Irineu, meu ti Carlin, meu ti Dumiro...

Em 1996, resolvi abrir uma gráfica expressa, a primeira da cidade. Com pouco dinheiro e com experiência apenas na área da informática, comprei uma máquina off-set usada pensando em serviços maiores. Um trambolho velho que pesava uns 150 quilos.

Assim que cheguei com a máquina Tidumiro foi ver a proeza e foi logo perguntando.

- Tibúrço, cê tem certeza de que isso não é uma máquina de moer cana?

- Ah Tripa Seca, cê vai ver o tanto de dinheiro que vou ganhar com essa máquina.

Ele dava boas risadas como antevendo, meu sofrimento com a compra equivocada.

Nunca consegui mexer com a máquina que na época custou uma soma considerável, 6.000,00. Quando tentava colocar ela para funcionar era papel voando para um lado, tinta para o outro, sujava as paredes e a roupa ficava inutilizada.

Tidumiro não perdoava.

- Ô Tiburço, se ocê resolver fazer garapa com essa máquina vai ser melhor.

E ele continuou a trollar minhas invenções. 

Uma vez inventei uma máquina de serrilhar papel, executada pelo saudoso amigo Silvano Schirmmer, que devido às restrições técnicas ficou muito boa.

- Ô Tiburço. E essa geringonça aí é pra que? Descascar laranja?

Noutra feita, projetei uma máquina para numerar impressos, que foi produzida por outro amigo, Janin. Também observando as restrições ficou muito boa. Mas Tidumiro não deixava passar batido.

- É Tiburço, cê tá desperdiçado aqui em Malacacheta. Tinham que te levar para Nasa.

- Pra que Tripa Seca?

- Aí a gente ia ver foguete explodir mesmo.

Mas esquecendo as brincadeiras, Teodomiro é um exímio fotógrafo, contador de causos e conhecedor de várias passagens da história de Malacacheta, até porque pelo ofício que exercia, chegou a registrar muitos eventos.

No início dos anos 2000, vendo seu movimento diminuir por causa das fotografias digitais ele mudou seu estúdio para um cômodo da União Operária e nos afastamos. Mas volta e meia ele estacionava sua bicicleta na porta de minha loja para bater papo e sempre me “aporrinhar” com a história da ‘Máquina de moer cana”.

Algum tempo depois, com suas filhas tomando outro rumo na vida, ele se aposentou e passou a fazer trabalhos esporádicos, que também abandonou mais tarde por problemas de saúde.

Nos últimos anos estava aproveitando a aposentadoria viajando. Visitou os filhos que mora em BH, o irmão Altamiro em Foz do Iguaçu, a família de Sabino Barroso em Rosário Oeste, Mato Grosso e outros lugares.

Há poucos dias sua esposa faleceu e eu aproveito o ensejo para externar minhas condolências ao meu amigo Teodomiro e sua família.

Como diria meu ex-professor e amigo Jesus Raslan, “A´história é feita de pessoas” e Teodomiro Manoel Dias certamente é destaque na história de Malacacheta.

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